Prova Hertzberger
Intervenção Casa da Glória segundo conceitos
de Hertzberger
No livro “Lições de
Arquitetura”, o arquiteto
holandês Herman Hertzberger reflete sobre fatores que devem ser considerados
pelos arquitetos na realização de um projeto. A partir disso, é possível fazer uma
análise da intervenção realizada na Casa da Glória, cuja intenção é
inserir um café no que hoje são salas de exposição localizadas no térreo do
primeiro bloco da casa (área destacada na figura abaixo). Para isso, as áreas
adjacentes também foram utilizadas no projeto, cuja finalidade não é impor uma
função específica, mas sim obter um melhor aproveitamento do espaço.
O conceito de público e privado, nesse caso, é variável. O
café em sua totalidade pode ser considerado semi-privado, já que tem seu acesso
permitido a qualquer pessoa, e estas possuem responsabilidades na conservação dele.
Porém, ao mesmo tempo, devido à necessidade de administração, horário de
funcionamento e funcionários, possui fortes características de privado.
Analisando o espaço interno, essas divisões se tornam mais acentuadas, pois a
maior parte dele tem circulação livre, mas o balcão, por exemplo, é de acesso
restrito.
O pátio frontal, uma área descoberta e sem uma utilização
definida, desempenha uma função essencial na interação entre o espaço em
questão e a rua. A ele, podem-se aplicar diversos conceitos apresentados no
livro. Primeiramente, é o espaço intermediário entre o público - que seria a
rua, e o “privado”. Em uma situação de funcionamento, o portão de entrada fica
aberto, servindo como uma gradação entre os espaços, e, ao mesmo tempo que
delimita, tende a chamar a atenção de quem passa, já que é a maior abertura
para a rua, e está praticamente no mesmo nível da calçada. Ele não chega a ser necessariamente
parte do café, então possibilita ao indivíduo, por exemplo, utilizar as
lixeiras presentes ali, e até explorar o espaço interno – devido às amplas
portas, sem qualquer compromisso.
Nos espaços principais, que são as salas de exposição, procuramos
manter a maior flexibilidade possível. Elas poderão continuar recebendo eventos,
e também servirão aos usuários do café, o que é possível devido às estruturas
polivalentes, como a da figura abaixo, que consiste em um painel segmentado,
que pode ser aberto conforme a necessidade, se tornando prateleiras, mesas e
assentos, oferecendo um leque de possibilidades de uso. Além disso, há pufes,
almofadas e bancos que podem ser deslocados e rearranjados no espaço, que
garantem funcionalidade qualquer seja a intenção de uso.
Os fatores citados acima convidam os indivíduos a entrar,
explorar, ocupar e interagir entre si e com o espaço. Além deles, para
proporcionar a integração também da parte externa dos fundos, que pode ser
considerada um jardim, foram utilizados outros recursos, como caminhos
luminosos no teto, que guiam o usuário, e para manter a integração e o fluxo,
há deques de madeira, que dão a impressão de continuidade do interior para o
exterior. Nesse local, há mesas e o café em si, cujo balcão também pode ser
utilizado como apoio.
Por fim, desejo evidenciar que a maior dificuldade na
realização da intervenção é o que Hertzberger
denomina “urdidura”, que é, resumidamente, o “esqueleto” da construção. Nesse
espaço, como patrimônio histórico, deve-se manter as estruturas e delimitações
já existentes respeitar as irregularidades. Portanto, a estratégia utilizada se
baseia na inserção de estruturas como o painel anteriormente citado à urdidura,
para possibilitar uma trama polivalente, ou seja, ocupação do espaço de forma
variada, sem prejudicar sua história.
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